O AVC é causado por interrupção do fornecimento de sangue ao tecido nervoso. O sangue leva diversos nutrientes para consumo das células nervosas, entre eles o oxigênio e a glicose, o principal combustível celular. O tecido nervoso tem alta taxa metabólica, portanto uma interrupção, mesmo parcial, pode causar uma disfunção imediata. Por isso o AVC ocorre subitamente, de imediato. Bastam poucos minutos sem oxigênio para ocorrer sofrimento do neurônio, podendo ocasionar sua morte (infarto da célula).
AVC ou AVE?
O termo acidente vascular encefálico (AVE) é sinônimo de AVC. Na realidade é um termo até mais correto, mas AVC já é uma nomenclatura consagrada pelo uso por décadas. O cérebro corresponde a parte evolutiva mais recente do sistema nervoso, a sua maior porção (telencéfalo + diencéfalo). Já o termo encéfalo corresponde a tudo que está dentro do crânio neural, ou seja, telencéfalo + diencéfalo + tronco encefálico + cerebelo. Portanto o AVC, ou AVE, pode acometer não só o cérebro, mas também o cerebelo e o tronco encefálico. Talvez esta confusão se origine de traduções equivocadas, como a palavra cérebro, que em inglês recebe o nome latino, cerebrum, ao contrário de encéfalo, que em inglês recebe o conhecido nome brain.
Como o AVC afeta o sistema nervoso?
Com a interrupção de fornecimento de sangue e oxigênio, os neurônios rapidamente entram em sofrimento e apresentam uma disfunção, levando ao distúrbio da função que exercem. Ou seja, se for uma região responsável pelo controle do movimento da mão, a mão do indivíduo que está sofrendo um AVC pode parar de funcionar parcial ou completamente. Caso estes neurônios continuem por certo período de tempo em sofrimento, e o fluxo de sangue não seja rapidamente reestabelecido, pode haver uma perda definitiva da função.
Porque algumas pessoas morrem, outras recuperam, e outras ficam com sequelas?
Tudo depende do local afetado e da extensão do AVC. Primeiramente, se o fluxo de sangue e oxigênio for reestabelecido a tempo, os neurônios em sofrimento podem se recuperar e a pessoa melhorar a função prejudicada. Se os neurônios ao redor da área afetada, no futuro, conseguirem suprir a função daqueles que foram lesionados permanentemente, pode haver melhora da função. Agora, se a lesão for extensa ou acometer áreas essenciais para controle do organismo, modificando a pressão arterial, ritmo cardíaco e padrão respiratório, pode haver agravamento do quadro levando à morte.
O que causa o AVC?
Existem dos tipos de AVCs: isquêmico e hemorrágico. O isquêmico é o mais comum, ocorrendo em cerca de pouco mais 80% dos casos, quando há então um entupimento que bloqueia a passagem de sangue pela artéria até determinada região do encéfalo. Podem ser causados por uma doença na artéria, que leva a um estreitamento (estenose) ou por coágulos, mais frequentemente originados do coração, em casos de arritmias cardíacas, por exemplo. Estes coágulos viajam pela corrente sanguínea (sendo chamados então de êmbolos) até bloquear pequenas artérias no encéfalo, causando o AVC. O AVC hemorrágico envolve sangue ao redor ou dentro do encéfalo, sendo causado geralmente pelo rompimento de aneurismas cerebrais ou pelo rompimento de pequenos vasos na profundidade do encéfalo.
Quais são os sintomas?
Os sintomas quase sempre ocorrem de forma repentina, ou podem começar lentamente e progredir de uma vez. Algumas vezes o indivíduo acorda do sono com os sintomas. Frequentemente notamos:
Como é feito o diagnóstico?
Uma avaliação de um neurologista, neurocirurgião ou de um clínico com experiência em AVC pode ser crucial para um correto diagnóstico rápido. Além da avaliação clínica e do exame neurológico, podem ser necessário a realização de alguns exames, como exames de imagem do encéfalo (tomografia computadorizada, ressonância magnética), angiografia (exames para avaliação dos vasos sanguíneos do sistema nervoso), exames de sangue, exames cardiológicos (eletrocardiograma, ultrassom (ecocardiograma) e monitorização do ritmo cardíaco.
Quais são as opções de tratamento?
O tratamento rápido é fundamental. Algumas vezes pode ser empregado no caso de um AVC isquêmico uma medicação venosa (rtPa - ativador recombinante do plasminogênio tecidual), o que pode reverter até completamente os efeitos de um AVC se utilizado nas primeiras 4 horas e meia. Também existe a possibilidade de extração do êmbolo por cateterismo, em determinados casos. Mas a maioria do tratamento é direcionada para reduzir os riscos de complicações secundárias, melhorar a recuperação e prevenir novos AVCs. Assim são usadas medicações que raleiam o sangue, diminuindo a formação de coágulos, medicações que reduzem o colesterol e diminuem a inflamação que pode piorar o entupimento de artérias obstruídas por placas de ateromatose, e em alguns casos até mesmo cirurgia para desobstruir artérias estenosadas no pescoço. AVCs hemorrágicos causados por aneurismas cerebrais que se romperam, por exemplo, precisam de tratamento por cirurgia cerebral ou por embolização por cateterismo. Também é fundamental o controle da pressão arterial, tratamento do edema cerebral e algumas vezes a inserção de pequenos tubos no cérebro, por meio de cirurgia, para drenar sangue e líquido cefalorraquidiano, diminuindo a pressão dentro da cabeça. Tendo em vista a grande demanda no tratamento e as múltiplas complicações que podem ocorrer, quase sempre estes pacientes necessitarão de imediato uma internação em unidade de tratamento intensivo (UTI).
A vida após o AVC
Algumas pessoas se recuperam muito bem, até totalmente. Outras ficam com graves sequelas que levam a enormes limitações e mudanças na rotina de vida. Todos estes problemas variam de acordo com a localização e extensão da região do encéfalo que é acometida. são frequentes os problemas para raciocinar e falhas de memória, dificuldade para falar ou compreender, dificuldade para engolir alimentos e até mesmo água, transtornos emocionais, como depressão, perda da visão em um ou ambos os olhos, perda da força ou sensibilidade em alguma parte do corpo, perda do equilíbrio e dificuldade para andar.
Portanto o processo de reabilitação é de extrema importância, sendo orientado e acompanhado por profissionais de fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Muitas vezes o indivíduo necessitará de alterações na sua rotina para se adaptar às novas dificuldades estabelecidas pelo AVC. O cérebro pode aprender novos modos de funcionar com os neurônios que sobreviveram ao AVC.
Prevenindo um segundo AVC
Prevenir que um AVC recorra é fundamental, já que a chance de ocorrer um AVC em um indivíduo que já teve AVC é bem maior. O acompanhamento médico neurológico é necessário neste caso. Recomenda-se ainda cuidados especiais com a saúde: comer dieta pobre em sal, gordura e colesterol, controle da pressão arterial, interromper o vício do cigarro, uso de medicamentos que diminuam o colesterol, controlem a quantidade de açúcar no sangue e reduzam a formação de coágulos.
Fatores de risco para o AVC
Ataque isquêmico transitório - AIT
Mais conhecido como princípio de AVC, o AIT é tão grave quanto um AVC. Para que ocorra devem estar presentes todos os fatores que também causam um AVC. Sendo assim, 10 a 20% dos AITS evoluem para AVC em até 90 dias, sendo 50% dos casos nas primeiras 48h. Os sintomas do AIT são os mesmos do AVC, porém eles se resolvem num período inferior a 24h, sendo na maioria das vezes em até 1h. Portanto, se algum indivíduo apresentar um quadro AVC, mesmo se os sintomas desaparecerem totalmente em poucos minutos ou horas, é essencial a avaliação de um médico, sobretudo um neurologista, para avaliar o risco de um desenvolvimento de um AVC em breve.
Reconhecendo um AVC
Ao se deparar com uma possível vítima de AVC, para saber se o quadro é sugestivo de AVC é simples. Basta alguns testes práticos e rápidos, que você mesmo pode realizar:
Em caso positivo para qualquer destas três perguntas a probabilidade de um AVC é grande. Entre em contato imediatamente com a equipe de resgate médico para que a vítima seja atendida (SAMU, Bombeiros, etc)
1 - o AVC causa uma morte a cada 4 minutos somente nos EUA. Lá são quase 800.000 vítimas por ano da doença
2 - no Brasil o AVC é a principal causa de morte em adultos acima de 40 anos, com letalidade de até 55%
3 - são estimados 15 milhões de casos por ano no mundo inteiro, causando 5 milhões de mortes e 5 milhões de pessoas com sequelas
4 - 10% dos pacientes com AVC não sobreviverão os primeiros 30 dias
5 - dos sobreviventes, 70% não conseguirá retornar ao trabalho e 30% necessitará de ajuda para andar
6 - o AVC é principal causa de incapacidade permanente
7 - o AVC é a principal doença que reduz a expectativa de vida de um adulto
8 - após um acidente isquêmico transitório a possibilidade de sofrer um AVC é de até 4% ao ano
9 - em apenas 1 minuto um AVC pode matar cerca de 1,9 milhões de neurônios
10 - 80% dos AVCs são evitáveis
Este vídeo explica o mecanismo que causa o AVC e seus diferentes tipos:
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